A ÁGUA PARA HEMODIÁLISE – UM BEM PRECIOSO

RENATO FINOTTI JUNIOR

       Yuan Lee, prêmio Nobel em Química (1986), disse: “A água é esquisita. É um líquido, quando deveria ser um gás; expande quando deveria contrair; e dissolve quase tudo que toca, se tiver tempo suficiente. No entanto, sem a esquisitice da água, a Terra deveria ser mais uma bola de gelo sem vida no espaço”.

         A água para hemodiálise quando inadequadamente tratada, coloca em risco a vida e a segurança do paciente. Para se ter uma idéia da magnitude do problema, para um indivíduo normal, o padrão estabelecido para ingestão de água são dois litros por dia ou 14 litros por semana. Além disso, a água dentro do tubo digestivo de uma pessoa normal é separada do sangue por uma membrana biológica altamente seletiva; o pouco de toxinas absorvidas no tubo digestivo e que chega ao sangue pode ser eliminada através de rins sadios.
         Pacientes que fazem 3 sessões de hemodiálise de 4 horas por sessão, estão expostos à aproximadamente 360 litros de água por semana, 25 vezes mais que a exposição à água pela ingestão diária. Aproximadamente 20.000 até 30.000 litros de água tratada entram em contato anualmente com o sangue do paciente através da membrana dialisadora. Durante uma hemodiálise fluem aproximadamente de 120 a 180 litros de solução de diálise através do dialisador, e esta solução de diálise é separada do sangue por uma membrana muito fina e pouco seletiva.
         A RDC nº 11, de 13 de março de 2014 estabelece ausência de coliforme total, o número máximo aceitável de bactérias heterotróficas de 100UFC/ml na água e de 200UFC/ml no dialisato; para as endotoxinas, uma concentração máxima aceitável de 0,25 EU/ml; portanto a análise microbiológica e de endotoxinas são necessárias para garantir ausência de risco biológico.
         A água fornecida pelo sistema de tratamento contém elementos químicos inerentes e adquiridos durante o tratamento, portanto a presença dos mesmos após o tratamento de osmose reversa pode ser um indicativo da necessidade de realizar manutenção do equipamento.
         Considerando a necessidade de redução de riscos aos quais fica exposto o paciente portador de insuficiência renal crônica que realiza diálise, a ANVISA estabeleceu o regulamento técnico para funcionamento dos serviços de Diálise, a Resolução –RDC nº 11, de 13 de março de 2014, que “Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Diálise e dá outras providências”.
         Os contaminantes químicos podem causar sérios agravos à saúde do paciente, as substâncias consideradas tóxicas na hemodiálise estão listadas no Quadro II da RDC nº 11/2014/Anvisa.
         Portanto para definir as características e dimensionamento do sistema de tratamento da água de uma unidade, torna-se necessário conhecer a composição da água fornecida ao setor de Hemodiálise.
         Logo no monitoramento deste serviço usaremos a Portaria de Consolidação GM/MS nº 5, de 28 de setembro de 2017 e Portaria GM/MS 888 de 04 de maio de 2021 que “Altera o Anexo XX da Portaria de Consolidação GM/MS nº 5, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade” , para avaliar a água que abastece a clínica (Água Potável), e a RDC nº 11/2014/ANVISA, para avaliar a água tratada que entrará em contato com o organismo do paciente através do processo de hemodiálise, tendo a membrana do dialisador como “filtro”.
         Diversos são os métodos empregados para o tratamento de água destinada a hemodiálise, sendo que a osmose reversa deve ser considerada indispensável, diante da qualidade físico-químico e microbiológico que ela oferece.
         Sistemas conjugados, incluindo filtros mecânicos, deionizadores, elementos de carvão ativado e, por fim o processo por osmose reversa, com ou sem o uso de lâmpadas ultra-violeta e ozonização, parecem ser a conduta mais adequada para o tratamento da água a ser utilizada em rotinas de hemodiálise.

Filtro de Areia

         É o primeiro estágio de pré-tratamento e tem por objetivo a remoção de material particulado grosso presente na água de alimentação.

Abrandador

         É o equipamento que remove principalmente cálcio, magnésio e outros cátions polivalentes. Contém resinas que trocam sódio por cálcio e magnésio.

Carvão Ativado

         Tem a função de adsorção, retendo cloro, cloretos, cloraminas, e substâncias orgânicas. São bastante porosos e têm alta afinidade por matéria orgânica, retendo ácido húmico, fúlvico, etc.

Osmose Reversa

         A osmose reversa propicia uma água extremamente “pura” do ponto de vista físico, químico e bacteriológico. Retém entre 95 e 99% dos contaminantes químicos., e praticamente todas as bactérias, fungos e vírus.
Portanto a vida se apóia no comportamento anormal da água que é uma molécula simples e estranha que pode ser considerada o líquido da vida.

Renato Finotti Jr é Farmacêutico Industrial, Responsável Técnico pela FINOTTI & ONO.

“As falhas dos homens eternizam-se no bronze, as suas virtudes escrevemos na água”.
William Shakespeare

A ÁGUA PARA HEMODIÁLISE – UM BEM PRECIOSO

RENATO FINOTTI JUNIOR          A água para…

Doenças renais: o que é, tipos, causas e como se prevenir

As doenças renais são condições potencialmente graves, provocadas pela redução da eficiência…

A importância de concluir todos os tratamentos

27 de novembro de 2020 A diálise é muito necessária…